A vacina da AstraZeneca foi temporariamente suspendida em vários países onde suas instituições analisaram a relação entre a vacina e coágulos sanguíneos. Em 7 de abril de 2021, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) relatou que raros casos de coágulos poderiam ser um efeito colateral incomum da vacina da AstraZeneca – Vaxrezvia [1]. Quando o sangue coagula em uma forma semi-sólida, ele pode formar um coágulo e bloquear um vaso sanguíneo. Embora muitos casos ocorram em mulheres com menos de 60 anos de idade [1], há uma vigilância em andamento para determinar os fatores de riscos específicos. Então, devemos nos preocupar com coágulos sanguíneos quando formos nos vacinar?
Considerando os perigos da COVID-19, os benefícios da vacina compensam a possibilidade de efeitos colaterais [1]. Apesar das estimativas variarem conforme o país, a chance de desenvolver coágulos após a vacinação são muito baixas [2]: o risco geral foi estimado em 4 em um milhão. O que esse número significa? Imagine jogar uma moeda para cima e tirar cara. Seria estranho se você jogasse essa moeda 18 vezes consecutivas e tirasse cara em todas elas, certo? As chances de tirar cara 18 vezes seguidas é aproximadamente 4 em um milhão. E os acontecimentos diários? No Reino Unido [3], 17 em um milhão é a chance de morrer numa moto depois de dirigir 161 km. Então, as chances de morrer em um acidente de moto após dirigir 161 km são maiores do que a chance de desenvolver um coágulo depois de tomar a vacina de COVID-19.
Também é importante de lembrar que outros medicamentos comuns têm riscos associados a diferentes tipos de coágulos e, mesmo assim, eles são tomados diariamente por milhões de pessoas. Por exemplo, algumas pílulas anticoncepcionais podem aumentar em três a nove vezes o risco de coágulos sanguíneos [4].
Nós deveríamos colocar esse risco em perspectiva. Se nós não formos vacinados, não iremos desenvolver uma resposta protetora contra o vírus SARS-CoV-2, o que deixa nós mesmos e os outros em nossa volta em risco de infecção. Embora as taxas de mortalidade variem por faixa etária e condições médicas, casos de COVID-19 estão associados com uma taxa de mortalidade de 2% a 3% [5]. Além disso, a infecção por COVID-19 pode ter vários efeitos de curto e longo prazo. Alguns sintomas comuns são dificuldade para respirar, tontura, cansaço, dores nas juntas e no peito, perda de olfato e paladar. Outros sintomas que são mais incomuns incluem alterações neurológicas e de humor, síndrome inflamatória, maior risco de coágulos e danos ao coração, pulmões e fígado [6,7,8]. É importante lembrar que 1 em cada 20 pacientes hospitalizados por COVID-19 desenvolvem coágulos sanguíneos [9]. Então, ter uma infecção grave de COVID-19 é muito mais perigoso do que os efeitos colaterais da vacina.
Apesar de as chances de desenvolver coágulos sanguíneos após a vacinação serem baixas, é importante monitorar quaisquer sintomas para evitar complicações futuras. Nas semanas após a vacinação, a Agência Europeia de Medicamentos recomenda buscar ajuda médica urgente caso você tenha qualquer um desses sintomas [1]: dor no peito, pernas inchadas, pontos vermelhos abaixo do local da injeção, dor de barriga persistente, falta de ar ou sintomas neurológicos (visão embaçada ou dores de cabeça).
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Escrito por: Nicole
Editado por: María e Natasha
Traduzido por: Alex
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Referências (em inglês):
Agency, E. M. AstraZeneca’s COVID-19 vaccine: EMA finds possible link to very rare cases of unusual blood clots with low blood platelets. (2021). Available at: https://www.ema.europa.eu/en/news/astrazenecas-covid-19-vaccine-ema-finds-possible-link-very-rare-cases-unusual-blood-clots-low-blood.
Schnirring, L. Groups find possible link between AstraZeneca COVID vaccine, blood clots | CIDRAP. Available at: https://www.cidrap.umn.edu/news-perspective/2021/04/groups-find-possible-link-between-astrazeneca-covid-vaccine-blood-clots. (Accessed: 26th April 2021)
Spiegelhalter, D. & Pearson, M. Understanding uncertainty: Small but lethal | plus.maths.org. (2010). Available at: https://plus.maths.org/content/os/issue55/features/risk/index. (Accessed: 26th April 2021)
Keenan, L., Kerr, T., Duane, M. & Van Gundy, K. Systematic Review of Hormonal Contraception and Risk of Venous Thrombosis. Linacre Q. 85, 470–477 (2018). Available at: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6322116/
Cao, Y., Hiyoshi, A. & Montgomery, S. COVID-19 case-fatality rate and demographic and socioeconomic influencers: worldwide spatial regression analysis based on country-level data. BMJ Open 10, e043560 (2020). Available at: https://bmjopen.bmj.com/content/10/11/e043560
Pero, A., Ng, S. & Cai, D. COVID-19: A Perspective from Clinical Neurology and Neuroscience. Neurosci. 26, 387–391 (2020). Available at: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32713251/
Salehi, S., Reddy, S. & Gholamrezanezhad, A. Long-term Pulmonary Consequences of Coronavirus Disease 2019 (COVID-19). J. Thorac. Imaging 35, W87–W89 (2020). Available at: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32404798/
Carfì, A., Bernabei, R. & Landi, F. Persistent Symptoms in Patients After Acute COVID-19. JAMA 324, 603 (2020). Available at: https://jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/2768351
Rabson, M. Coronavirus: Doctors say getting COVID-19 poses much bigger risk of blood clots | CTV News. (2021). Available at: https://www.ctvnews.ca/health/coronavirus/doctors-say-getting-covid-19-poses-much-bigger-risk-of-blood-clots-1.5353995. (Accessed: 27th April 2021)
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