Em nosso post anterior, falamos sobre as diferentes maneiras pelas quais os antibióticos podem matar as bactérias*. Os antibióticos têm sido muito úteis para combater as infecções bacterianas. No entanto, eles devem ser manuseados com cuidado e seguindo a dosagem prescrita pelo médico. Na verdade, os antibióticos podem atacar não apenas as bactérias que causam a doença, mas também as bactérias "boas" que normalmente existem em nosso corpo. Além disso, o uso inadequado de antibióticos pode contribuir para o desenvolvimento de bactérias multi-resistentes.
De fato, um dos maiores problemas de resistência a antibióticos é o uso excessivo de antibióticos [1], um bom motivo para as pessoas não se auto-medicarem. Imagine uma pessoa para quem é prescrito um antibiótico. Quando o antibiótico está agindo sobre a população de bactérias, somente as bactérias mais aptas serão capazes de resistir ao medicamento sem morrer. Se esta pessoa parar de tomar o antibiótico antes do tempo previsto pelo médico, ela terá tomado apenas antibiótico suficiente para matar as bactérias mais vulneráveis, mas não o suficiente para matar as bactérias mais resistentes. Com este uso intermitente de antibióticos, uma "pressão de seleção" é colocada sobre as bactérias. Em outras palavras, as bactérias mais resistentes estão sendo selecionadas e sobrevivendo, enquanto apenas as bactérias que eram menos resistentes estão morrendo. As bactérias resistentes irão se reproduzir e "compartilhar" o segredo da resistência à próxima geração de bactérias. Se o antibiótico for necessário novamente, é possível que não seja mais eficaz porque as bactérias que sobreviveram e se multiplicaram já são resistentes.
Há várias maneiras de evitar o aumento da resistência aos antibióticos. Primeiro, o médico deve avaliar a necessidade de um antibiótico caso a caso. Se o paciente tiver uma infecção viral, um antibiótico não o fará sentir-se melhor: o antibiótico não irá combater o vírus, mas poderá contribuir para selecionar bactérias resistentes (consulte o post sobre antibióticos e antivirais para mais informações). Entretanto, se o paciente tiver uma infecção bacteriana, é importante que o médico determine de forma precisa o tempo ideal para a prescrição (por quantos dias o antibiótico deverá ser tomado).
Além disso, Holmes e colaboradores (2015) resumiram várias recomendações para evitar a resistência antimicrobiana, incluindo: melhor vigilância, diagnóstico e prescrição de antibióticos; descoberta e validação de novos medicamentos com propriedades antimicrobianas; e diminuição do uso de medicamentos antimicrobianos em práticas agrícolas e em aquicultura [2].
A vacinação é outra estratégia com vantagens importantes, pois pode ajudar a prevenir infecções e, assim, diminuir a necessidade de antibióticos. Por exemplo, as infecções pneumocócicas são tratadas com antibióticos como a penicilina, mas houve um aumento na resistência de pneumococos à penicilina. A vacina pneumocócica conjugada (PCV) ajuda a obter imunidade contra alguns tipos de pneumococos ("cepas" ou subtipos bacterianos). Depois que muitas pessoas receberam a vacina pneumocócica, os casos de infecções por pneumococos resistentes à penicilina desses subtipos bacterianos diminuíram consideravelmente [3,4]. Em outras palavras, houve menos casos de bactérias pneumocócicas resistentes a antibióticos depois que a vacina foi introduzida.
*Bactérias - microorganismos invisíveis a olho nu que consistem de uma única célula, embora possam se agrupar para formar colônias ou estruturas chamadas de biofilmes. Algumas bactérias são patogênicas, ou seja, causam doenças, como a Salmonella enterica, enquanto outras são benéficas à nossa saúde, como as que normalmente se encontram dentro do intestino.
_________________________
Escrito por: Nicole
Editado por: María e Natasha
Traduzido por: Alex
Biodecoded é um grupo de voluntários comprometidos a compartilhar informação científica precisa e confiável. Se você tiver dúvidas sobre esse tópico ou se quiser saber mais, comente abaixo ou nos envie suas perguntas.
Referências (em inglês):
Llor, C. & Bjerrum, L. Antimicrobial resistance: risk associated with antibiotic overuse and initiatives to reduce the problem. Therapeutic Advances in Drug Safety 5, 229-241 (2014). https://doi.org/10.1177/2042098614554919
Holmes, A. et al. Understanding the mechanisms and drivers of antimicrobial resistance. The Lancet 387, 176-187 (2016). https://doi.org/10.1016/S0140-6736(15)00473-0
Lobanovska, M. & Pilla, G. Penicillin’s Discovery and Antibiotic Resistance: Lessons for the Future?. The Yale journal of biology and medicine 90, 135-145 (2017). https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5369031/pdf/yjbm_90_1_135.pdf
Kyaw, M. et al. Effect of Introduction of the Pneumococcal Conjugate Vaccine on Drug-Resistant Streptococcus pneumoniae. New England Journal of Medicine 354, 1455-1463 (2006). https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/nejmoa051642
Comments